Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas, meu Amor, eu não vos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
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quinta-feira, 29 de setembro de 2011
A Vida
É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...Lançar um grande amor aos pés de alguémO mesmo é que lançar flores ao vento!Todos somos no mundo" Pedro Sem",Uma alegria é feita dum tormento,Um riso é sempre o eco dum lamento,Sabe-se lá um beijo de onde vem!A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...Uma saudade morta em nós renasceQue no mesmo momento é já perdida...Amar-te a vida inteira eu não podia.A gente esquece sempre o bem de um dia.Que queres, meu Amor, se é isto a vida!Florbela Espanca
Certeza
De tudo, ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...A certeza de que precisamos continuar...A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...Portanto devemos:Fazer da interrupção um caminho novo...Da queda um passo de dança...Do medo, uma escada...Do sonho, uma ponte...Da procura, um encontro...(Fernando Sabino)
sábado, 3 de setembro de 2011
Lágrimas Ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
Álvares de Azevedo
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
Álvares de Azevedo
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
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